TRANSATRAVESSADOS

Mostrando postagens com marcador entropia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador entropia. Mostrar todas as postagens

20 de setembro de 2013

desistencialismo

mal começo, logo desisto 
costumo ser dissidente 
ou apenas não persisto 
e me abstenho, ausente 

eu não me importo 
não quero nem saber 
pois não o suporto 
mando logo se foder 

nada condescendi 
falta não me fará 
não estou nem aí 
deixo tudo para lá 

eu fujo da arena 
estou caindo fora 
saio agora de cena 
estou indo embora 

nada disso não mereço 
canso fácil demais 
simplesmente esqueço 
mostro os genitais 

eu não aguento 
e me desassocio 
ou me aposento 
ou me distancio 

basta abrir mão 
jamais me iludo 
se é tudo em vão 
desisto de tudo 

sou um desertor 
sempre me excluo 
e para mais me opor 
não continuo 



25 de julho de 2013

Um ano de diferença


Aos cinco anos de idade, por haver nascido em dezembro, 
meus pais tiveram a opção de me colocar na escola, 
mas preferiram me deixar mais um ano livre. 

Sempre fui o mais velho entre meus pares, 
e, apenas por tal razão, tornei-me hoje um idiota, 
já que cresci julgando que todos os outros é que o eram. 

Tivessem meus pais me matriculado um ano antes, 
teria crescido a julgar que o idiota era eu, 
e talvez pudesse estar enganado. 



25 de abril de 2013

anatemancipação

toda metáfora é metade
e dura fura cada áfona plêiade que evade
que
chic é ser maudit Poète
a declamar com chiclete
se vós exilados de Babel
ouvis nesta voz de papel
que
toda paráfrase parafusa
e gira e pira cada crase se abusa da musa 



14 de fevereiro de 2013

Dentro embora

A sorte, discussão dos historiadores 
(logo ao fundo), dá lugar 
de palavra a este poema. 
Deus, em sonho (rudeza do animal), 
falava pelos cotovelos, de si para si, 
e só este último nada compreendeu. Tão tépido tempo travou. 

Nesse seu instante de vertigem, apanhou a sílabas 
e se achegou a elas, benevolente, 
mas a tremenda resposta (cólera) 
do algum valor filosófico é o que acrescenta com certa pressa: 
foi como se o tivessem rompido, o corpo que se partiu de frio, 
em um mágico alfabeto de fato – castigo eterno para os maus – 
em que ele podia ser habilidoso 
e o que sentiu naquela faquinha 
e o que selvagem tem me usado (oculto seu nome) 
para o que confrontou o interno 
com o dogma, e se ouvirá a voz 
querida deles na fumaça agitada, 
não havia senão o pouco assim, ou nos decifrando. 

O que já se iluminou submetido a mil operações mágicas, 
o que dá para anos de indecisão, procura (não decência). 
Refiro-me aqui à estrita noção – paradoxal: 
a crítica em geral foi seu cinzel. 
Ele considerara cada alternativa, desde as letras 
destinadas a nos castigar diante das suas aspas (seus chifres), 
até certos períodos justificados,
passando pela corrente de saliva a se urdir no que bebo 
para engolir com fé o placebo. 


  

25 de janeiro de 2013

Precisar Impossível



Ele acordou muito cedo naquela promissora manhã de segunda-feira. Um dia especial. Tomou banho e se barbeou bem, penteou os cabelos e escovou os dentes. Vestiu seu melhor terno, bem combinado com a camisa, o cinto, a gravata e os sapatos, bem como com as abotoaduras. Tudo impecável, indefectível; estava um homem muitíssimo bem apresentável, aparentando mesmo muita credibilidade. Devia-se admitir. Fez seu desjejum com ansiedade e então partiu.

Confiante e otimista, dirigiu-se para o centro da cidade com um único e bem definido objetivo. Iria atrás de uma colocação no mercado, digna de seu conhecimento e preparo e, por que não dizer também, merecimento. Quando viu os homens vestindo placas de anúncio de empregos conhecidos como cartazistas, parou para olhar; tinha mesmo chegado um pouco adiantado e não custava nada matar assim seu tempo. Passeou por entre os anúncios considerando as mais diversas oportunidades de se conseguir vagas; deteve sua atenção nos detalhes das exigências e dos pré-requisitos, dos salários e dos benefícios oferecidos, como outros candidatos. As palavras dos anúncios lhe entravam pelos olhos como se mágicas, douradas em seu reluzir de solução definitiva para algum resquício qualquer de insegurança que ainda pudesse ter. Quando parou em frente, de repente, daquela vaga. Era exatamente a melhor opção possível se tudo mais desse errado, e seria aquele o seu plano B perfeito. O que fez, então, foi sacar do bolso interno do blazer uma caneta, anotando minuciosamente os dados da vaga e de onde poderia muito bem e a contento encontrá-la.

Havendo chegado à hora, encaminhou-se diretamente para a entrada do edifício muito alto onde já estava se formando uma fila, na qual tomou seu lugar. Após ter aguardado pacientemente tantos anos ao longo de sua vida, preparando-se para este dia, estudando e incrementando sua experiência, jamais se surpreenderia com algo desse tipo, nem isso tampouco o faria desistir daquilo que já tinha programado, tendo previamente pesquisado quais seriam os itens necessários para sua formação a constar devidamente em seu extenso e bem elaborado currículo. Então, depois de esperar mais de uma hora, finalmente pode adentrar o edifício. Identificou-se à portaria, passando pela recepção, onde se informou, reconfirmando as informações que pesquisara previamente. Ratificou que, para visitar todos os andares, repletos de empresas agenciadoras de mão de obra, o melhor seria subir de elevador até o último piso e descer tudo de escada. Educadamente, ainda cedeu sua vez para umas senhoras, antes de entrar no elevador que o faria subir ao topo da construção. Enquanto subia, repassava mentalmente as palavras que diria quando fosse amiúde indagado sobre este ou aquele item, uma ou outra passagem de sua formação; a explicação sobre onde exatamente residia ou mesmo sobre sua pretensão salarial. Após alguns segundos, chegou ao seu destino. Aproximando-se impavidamente, então, do balcão da recepcionista, sem quaisquer delongas e com o seu bom sorriso cortêz, atacou:

- Bom dia! Eu gostaria de me candidatar a uma vaga de presidente de multinacional.

A mocinha, a princípio, ficou atônita. Outros candidatos na sala de espera olharam. Logo, a atendente, disfarçando um sorriso, pediu desculpas, dizendo ter achado que não entendeu muito bem o que disse o candidato e solicitando que ele não se incomodasse em repetir, por favor, a que veio. Sem se sentir contrariado, mas sem entender o que ela não havia entendido de sua boa pronúncia, prova de destreza na dicção e fluência verbal, pôs-se a repetir, em idêntico tom, as mesmas palavras. Antes que concluísse a frase, estalou um burburinho geral que rebentou em estrepitosa gargalhada, a qual também sucumbiu a normalmente tão comedida moça da recepção, numa sessão de risos gritados, uivados e cheios de interjeições zombeteiras que rompeu de forma inédita o ambiente de seriedade e profissionalismo predominantes ali ao longo dos anos.

Ele, um pouco como se se desse conta do absurdo da situação, mas mais pela algazarra em si do que por seus motivos, se empertigou, retirando de sobre o balcão o seu currículo, resignadamente e com alguma brusquidão, dizendo ainda um “muito obrigado” um tanto irônico, para se retirar em seguida, não sem ainda escutar ecoar o retumbar do riso de toda a audiência sem compostura alguma atrás de si. Procurou não dar muita vasão aqueles ânimos tão desconcertantes.

Seguiu seu caminho para a próxima agência, logo em frente, onde as pessoas chegaram a se assustar com tamanho ruído vindo da outra porta, curiosas por saberem de que se tratava, mas ainda empedernidos em manter a seriedade adequada a tais ambientes, seus empregos e vidas futuras dependendo de suas posturas. Mas não demorou para que, pouco após a entrada do próximo candidato, descobrissem os motivos... ou, mais precisamente, para que conhecessem pessoalmente o motivo. E da-lhe nova saraivada de risos. Dessa vez, sequer foi necessário que ele repetisse as palavras. E como que ampliado pelo suspense após as primeiras gargalhadas na outra sala, o estampido dessa segunda sessão pode ser ainda maior, com acréscimo de pantominas e arremedos, mãos nas testas e abdômes, além dos vários pares de pés batendo no piso, que chegava a tremer.

Na agência do andar de baixo, já se haviam igualmente dado conta de que algo infinitamente curioso se passava, e, quando se aproximou o candidato seguinte... riso frouxo e gargalhadas debochadas encheram o ar com tal ruído que já se podia pensar estarem todos não apenas a assistir a uma hilária comédia, mas a serem cruelmente torturados com as mais severas cócegas. Relinchavam, grasnavam, rugiam, zurravam. Era assustadora a forma como já se entregavam às risadas de forma tão livre e exagerada, ebriamente; tanto que ele, muito rápido, abandonou o recinto, quase mesmo como se estivesse fugindo, mas não. Um pouco ensimesmado, mas ainda imperturbável.

Assim, cada vez com maior alvoroço, seguiu-se a sua descida de agência em agência, anunciando sua candidatura à vaga de bobo, ridículo, louco, ou, apenas, como ele bem dizia, presidente de multinacional. Repetiu-se tudo com mais e mais intensidade a cada vez, a cada nova entrada num e noutro canto pelo qual passava, de todos arrancando até o último recôndito ar gargalhante que era iminente liberar assim a plenos pulmões.

A rotina do prédio, a essa altura, já havia sido completamente perturbada pelo fenômeno. Começava-se a parar todas as atividades de praxe do cotidiano de trabalho das diversas empresas e da própria administração predial. O pessoal da recepção e da faxina, os seguranças, a turma da cozinha e de todas as agências já visitadas se aglomerava na entrada da próxima, a esperar outro bis de tão divertido e inusitado espetáculo de bizarrice e grotesco, exponencialmente crescentes. Pessoas dos prédios vizinhos e mesmo gente que passava na rua, aparentemente sem nada a ver com a coisa, assomava. Notava-se um fluxo de pessoas muito maior do que o que comportavam escadas e elevadores, acometendo as vias de acesso e circulação do edifício, apenas para vê-lo.

Quando chegou ao primeiro andar, encaminhando-se para a última agência, a expectativa era não apenas a de que após aquilo o mundo poderia acabar, mas que de fato acabaria, numa felicidade nunca antes imaginada em tempos tão apocalípticos. Mas o que de fato aconteceu foi mais surpreendente: não algo ainda muito mais engraçado, nem muito menos; foi algo diverso, surpreendente e talvez decepcionante, como se poderia pensar. Em verdade, passou-se algo insondável, intrigante e até mesmo incomensurável. Simplesmente ele se aproximou do balcão da recepção com a mesma expressão e atitude de antes, desta vez com o último currículo que faltava entregar em mãos, retirou do bolso uma anotação e, diante dos olhares pasmos e embasbacados da turba, leu-o, para em seguida dizer:

- Bom dia! Eu gostaria de me candidatar a uma vaga de office-boy.

Apenas um Nada enorme podia ser lido nos olhares daqueles que, esperando por outra coisa, estavam ali ouvindo aquilo que ele quase sobrenaturalmente acabara de dizer. A recepcionista foi a primeira, após um instante catatônica, a respirar. Ela então piscou, respirou novamente, mais fundo, e olhou seus papéis no balcão; observando atentamente o currículo do candidato. Disse que sim, que eles haviam mesmo anunciado, assim e assim, tal vaga, e que ele poderia normalmente e muito bem se candidatar a ela.

Então, passando por entre as pessoas que se amontoavam com alguma dificuldade, ele se dirigiu a sala de espera onde, imperturbável, pôs-se a aguardar ser chamado para a entrevista, ansioso.


14 de novembro de 2012

Soneto de Modernidade (Pastiche do de Fidelidade)



Em ludo ao meu leitor soarei barulhento,
Gritante e com tal apelo, para seu espanto
Que a esmo na sintaxe do pior esperanto
Nele se encaixe menos o meu fragmento.

Quero roê-lo como um cão sarnento
E se imperador hei de amarrotar seu manto
E ferir seu siso e derrubar seu santo
Para o meu gozar ou o meu experimento

E afim de que com tal alarde me censure
Quem cabe o recorte, deguste a que salive
Quem gabe essa versão, finde quem trama

Possa eu sobreviver como autor (que vive):
Que não boceja autoral, rosto que difama
Mas que verseja esquisito enquanto rasure. 



24 de agosto de 2012

La Niña (Burn, Brazil, Burn)

Há umas reféns desse céu de agosto com bolhas de asfalto nas rótulas da alameda necropolitana
na cidadezinha do estado temperado.


Há a baixa umidade relativa do ar
com que o sol inferniza o chão e o que quer que sobre sobre
como meteorologistas profetizam.


Há sons secos em todos os cantos
das gargantas daquelas que regam a cruz com garrafas PET
e é novena o nome que se chama.


Há redemoinhos de fogo pela roça
enquanto a indiazinha reza por já não poder ser Gene Kelly
mas chuva que é bom ainda não há. 

4 de agosto de 2012

Visita ao Sono

A entrada não é gratuita, mas barata, e se cobra simbolicamente.

Tomara que remédios? Tomara contra os tédios?
Tomara o vermelho que sim ou o azul que não?
Gregor Samsa ou o grego Tifão?

Passado o detector de metais, se nada de mais estiver presente,
cegue-se de olhos no guia do futuro para trás, e vou na frente.

A orientação essencial,
de que aqui as coordenadas egocêntricas têm valor nulo,
basta para nos nortear:

À esquerda são os fundos,
e ali as sobras de arte da Sifilização Acidental. Descontraiam-se.
Atrás fica o teto, até onde a vista alcança. Cuidado com a cabeça.
Acima há bancos onde a poupança pode descansar, logo à frente.
Adiante temos o chão. Por favor não pisar ali.
Abaixo a direita! – grito, entre outros ruídos. Fica proibido tocar
                                                                 no silêncio de ouro.

E antes de voltarmos ao ponto de partida, a praça de alimentação
aos que cumpriram nossa determinação: não entrar com comida.

A saída de emergência será através da nossa loja de conveniência.
Espero muito em breve poder revê-los
para qualquer outra visita monitorada a um dos meus pesadelos.