TRANSATRAVESSADOS

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20 de setembro de 2013

desistencialismo

mal começo, logo desisto 
costumo ser dissidente 
ou apenas não persisto 
e me abstenho, ausente 

eu não me importo 
não quero nem saber 
pois não o suporto 
mando logo se foder 

nada condescendi 
falta não me fará 
não estou nem aí 
deixo tudo para lá 

eu fujo da arena 
estou caindo fora 
saio agora de cena 
estou indo embora 

nada disso não mereço 
canso fácil demais 
simplesmente esqueço 
mostro os genitais 

eu não aguento 
e me desassocio 
ou me aposento 
ou me distancio 

basta abrir mão 
jamais me iludo 
se é tudo em vão 
desisto de tudo 

sou um desertor 
sempre me excluo 
e para mais me opor 
não continuo 



11 de julho de 2013

parabolae

lagos de sentido e alcatrão, 
saídas de falsas fechaduras, 
nódoa, poças de escuridão, 
tipos de arcaicas máquinas, 
cabeças com chifres, hastes, 
celibatos de linhas impuras, 
manchas de vácuo ou nada, 
oposto essencial, contrastes, 
limiares para furar páginas, 
arca anárquica de ateísmos, 
monólito ao todo, em cada, 
as palavras são vis abismos 



20 de junho de 2013

No exame das páginas, ler meus olhos a fundo



Sobre meu nada diuturno, eis as pátinas, assumo:
lendo todo o tempo, fumo muito e pouco durmo,
sem saber se há isto que na vista aja ou se o finjo,
o que raja de vermelho o branco dos meus olhos
tal como tinjo de vermelho o branco das páginas:
ou naturalmente rajada ou artificialmente tingida,
seja em franco espelho, seja sob vernizes e óleos,
não é como leio a vida, mas como faz por ser lida. 



11 de abril de 2013

Fundamentadamente


Neutra, a Ideia nasce.
Nós, homens, depois,
fazêmo-la inflamada.
É o fanatismo do útil
que impõe tal ilusão.

Pensar claro, límpido,
freia a tendência a fé,
o apetite pelo poder,
a obsessão por Deus.

O riso contrapontear
a lucidez implacável,
a elegância lacônica,
é o Nada mais ideal.

E nobilíssimos vícios,
a dúvida, a preguiça,
são a saída pelo Mal
contra os diligentes.
Certeza: tara capital.



21 de março de 2013

Poesia


Será ela aquela, a que Eu cria? Era já bela criada como acre dito?
Resigno-me ao signo ou resigno-me ao nome: esse sonho enorme.

Desta vez posso não ter me lembrado de tudo antes de recomeçar.
Tudo está perdido, e desta vez para todo o sempre. Achais o quê?

Nada nos espíritos a menos se a mais e estáveis tão alto que dê pé.
Transatravesso o Ser, já que eu, humano, desci para si, o consigo.

Faço tudo o que posso, mas fazer o que não posso é bem melhor:
                                                                é passagem só de volta,
                                                                     aí entro em colapso
                                                                              e lá me sento.
                                                                                     Sente-se.
Minha barba hoje cresceu um ano. Serão cordas de viola. É vossa.

Havia um buraco na caixa e nesse buraco uma caixa sem buracos.
Ali dentro dessa caixa haverá outras caixas ou apenas um buraco?

Escapo desse pensamento para ir pensar o cérebro em meu crânio.
                                                                                      Nascente,
                                                                                lá dá cócegas
                                                                         em termos cãibras
                                                                   no sentido: rio imenso,
pois congraça até me desaguar na ideia insensata, oceânica mente.

Viram coisas? Eu sim: visões de época, dadas vezes. Verão o quê.
Viremos um pouco de lado esse longe, com amor e sem bagagem.

A minha vida imita a arte sem razão de eu devolver esta reflexão.
O espelho me parte e sangra por inteiro. Para melhor te imaginar.

Transatravesso o Ser, já que eu, humano, desci para si, o consigo.
Nada de novo, estilo borboleta. Sentir é pensar com o corpo todo.



14 de fevereiro de 2013

Dentro embora

A sorte, discussão dos historiadores 
(logo ao fundo), dá lugar 
de palavra a este poema. 
Deus, em sonho (rudeza do animal), 
falava pelos cotovelos, de si para si, 
e só este último nada compreendeu. Tão tépido tempo travou. 

Nesse seu instante de vertigem, apanhou a sílabas 
e se achegou a elas, benevolente, 
mas a tremenda resposta (cólera) 
do algum valor filosófico é o que acrescenta com certa pressa: 
foi como se o tivessem rompido, o corpo que se partiu de frio, 
em um mágico alfabeto de fato – castigo eterno para os maus – 
em que ele podia ser habilidoso 
e o que sentiu naquela faquinha 
e o que selvagem tem me usado (oculto seu nome) 
para o que confrontou o interno 
com o dogma, e se ouvirá a voz 
querida deles na fumaça agitada, 
não havia senão o pouco assim, ou nos decifrando. 

O que já se iluminou submetido a mil operações mágicas, 
o que dá para anos de indecisão, procura (não decência). 
Refiro-me aqui à estrita noção – paradoxal: 
a crítica em geral foi seu cinzel. 
Ele considerara cada alternativa, desde as letras 
destinadas a nos castigar diante das suas aspas (seus chifres), 
até certos períodos justificados,
passando pela corrente de saliva a se urdir no que bebo 
para engolir com fé o placebo. 


  

18 de janeiro de 2013

Para quê?




Para estar inquieto ao termo da iniciação

a que teus escravos olhos me submetem.

Para que com o curto fio da liberdade

tu possas fazer corrediços

laços de vontade.



Para que as regras que falo

deixem de ser o fluxo

do meu idioma.

Para encontrar até a última interdição

e perdê-la na tradução.



Para que os que sabem dividir

não abram mão do resto.

Para separar de uma vez as famílias tão perfeitas

que prescindem de alguém

infamiliar tal qual tu.



Para compartilhar os dois silêncios

entre tu e tu

com o outro alguém além de mim.

Para que os mistérios contenham livros

que se atenham àquilo que os contém.



Para aliviar os egoístas

de suas próprias mortes.

Para que nossa idolatria do erro

remende com ouro

as cerâmicas rachadas da fidelidade.



Para que tombem

as almas das quais qualquer benzedeira

extrai um encosto.

Para forjar talismãs

mais inúteis do que os que nos salvam.



Para que os espelhos sejam torturados

até pararem de nos hipnotizar com a verdade.

Para abraçar a penúltima solidão

quando ela nos reivindica

só para si.



Para iluminar com gritos de orgasmo

os quartos dos idosos

que a escuridão faz dormir.

Para que todas as línguas cultas

convertam em práxis seus clitóris.



Para desengavetar as mil lágrimas

cujo pó habilita para a publicação.

Para que as crueldades

que desatamos a dizer

sempre ecoem em nós.



Para que outra juventude ainda queime

as horas grossas de alho e sal

que me alimentam.

Para fazer chegar estas palavras

aonde não chegam as formigas.



Para que os que desmaiam com susto

sejam beijados pelo que os assombra.

Para matar quem morre

de medo de temer

sua coragem.



Para emendar a minha constituição tão frágil

diante da reserva do possível

e garantir mais do que um mínimo existencial.

Para que o que mais se deseja em juízo

seja preciso.



Para nunca nos esquecermos de quanto viemos

ou para quando vamos.

Para que a criança do futuro

suspeite que os brinquedos de presente

não tem passado de arma.



Para que nos dê o álcool

cada vez mais barato

cobiçado de cara.

Para desengarrafar o que só se liquida

com uma dose de sede. 



Para que os muros sirvam de páginas

cuja razão sempre está do outro lado.

Para deixar crescer os cabelos

como se a sobejar os sistemas

que emaranharão as cabeças.



Para esmolar uma boa maldade qualquer

a quem quero tanto ou encarecidamente

amo.

Para que a nossa valorosa paixão

custe o apreço pela própria alma.



Para conferir o sangue dos sonhos

que a consciência prefere.

Para que lágrimas como punhos

por efeito físico ou causa moral

deem pancadas de chuva no céu dos astrólatras.



Para que o sexo como nós conhecemos

nunca deixe de gerar as estranhas forças

que continuamente desperdiça.

Para acelerar com novos nadas

o suplício lento do mesmo tédio.



Para que mesmo sem causa

tudo surta efeito.

Para asseverar que em tais frenesis

de princípios nomeio sempre

antes esse fim que ri.



Para que as derradeiras respostas

de nosso escasso estoque

reponham lá as questões.

Para que todavia se indague

para quê.