O
que há de inebriante no mau gosto
é
o prazer aristocrático de desagradar.
CHARLES
BAUDELAIRE
I
Ao Fedor
Sem medo algum, dentro da treva
que nauseia.
- Hipócrita fedor, meio mingau,
meio feijão!
II
Intestino e Anal
Sob a benção do albatroz que
pressente a elevação
Dos gases em correspondências,
faróis do azar
Das musas venais e doentes de
vida interior,
Castigo de inimigo do orgulho e
da beleza o pum
Que a giganta de máscara solta o traque
gótico;
Envolta em ondulante traje
nacarado
A serpente que dança na carniça,
De profundis o processo semper eadem,
Toda ela o veneno do céu nublado
Moesta et errabunda o tonel do ódio,
Odor que é heautontimoroumenos!
III
Flatos Incontinentes
Quando te ouço peidar, minha
fétida indolente,
Em meio aos sons da orquestra que
se perdem no ar,
Movendo o cólon harmoniosa e
lentamente,
E gaseificando essas fezes de teu
forçoso bufar;
Quando farejo, sob a luz do gás
que a cora,
Tua amarelada mão em mórbido
recato,
Onde as flamas da morte que pões
para fora,
Com teu cu que mais que cu é todo
flato;
Mas eu, eu que de tão longe vos
rastreio a trilha,
Que, pela narina, sei bem de onde
o tal odor partia,
Como se me correspondesse a ovo, repolho
e ervilha,
Transporta-me o fedor que arde, exótica
perfumaria!