A manhã de primavera
convida a vir para fora
sentir uma brisa esguia
como tanto dizia o avô
ler em sua hora o calor
que indeniza da espera
e faz brotar o que a flor
quer dizer com o canto
a crescer em
Rimbaud:
de cordial a carnal,
o rouxinol sob o sol.
A tarde de verão
cuja perspectiva
caso não se note
era bem que arde
se chora madura
do que foi botão
vem braço dado
e emoldura a via
com Caillebotte:
poças rasas de
passos por baixo da chuva suja.
A noite de
outono
a ventar o espetro
da má companhia
ou raro abandono
na falta desse
laço
pó de ser
ninguém
que é música
vazia
a alentar o
séquito
por trás de
Cobain:
alguma corda de
aço em seu braço sem dó.
A madrugada de inverno
precipita o seu nó futuro
sobre o cabelo tão níveo
no abotoar do terno de lã
que visita ainda acamada
leva das dores ao buraco
o sofrível quarto escuro
mas belo a restar no fim
dos cafés com Bergman:
violoncelo
tabaco, cobertores carmim.