TRANSATRAVESSADOS

30 de maio de 2013

Buster Keaton

cara de pedra 
louco acrobata 
intrépido poeta 
quem te ampara? 
belo saltimbanco 
em preto e branco 
por que te arriscas 
às quedas e faíscas? 
talvez por travessura 
ou porventura mudez 
jamais saias do ângulo 
se não estás sonâmbulo! 
porque tu sempre corres 
veloz para a imensa ação 
e rio e choro e não morres 
nem mesmo contra canhão! 
e nenhuma vez ris ou choras 
de ódio ou de amor no cinema 
diante dos vis ou se te enamoras 
como se já projetasses este poema 



23 de maio de 2013

en prise


para dois pontos numinosos
para um lance raro no dia escuro
para que o silêncio seja sua captura
para as suas noites despidas de ludo
para que peças de madeira feitas
para se abraçar em uníssono
bastam só dois dedos de amor no abismo
e se desvendam suas duas estrelas de anis
alcança de súbito o interior
segue adiante sem dons de ver
para à plebeia morte ser promovida
se mesmo as maestrias macias de segunda
tem a tara de pau de árvores genealógicas
de cujas copas os teus óleos se derramam
vistos desde o inaudível húmido solo
encastelado no sudoeste da hora
a cada gota ainda mais queda
um lençol encobria o céu em sonho a pino
e tão recorrente destino não há hoje em dia



16 de maio de 2013

Praia Nossa

Ai posso quedar-me ao léu, 
embriagado de cerveja no ócio enorme, 
venha a sós o biquini obsceno, 
na sexta-feira nós à vontade 
ao fim da serra bem cômodo de chapéu. 
A praia famosa de areia fina nos dai hoje, 
despovoai as orlas extensas 
assim como nós farofamos 
aonde nos tem a pele ardido, 
e não nos deixeis cair no arrastão, 
mas limpai-nos do sal. 
Lámen. 


9 de maio de 2013

azul Gitanes

quando os dois lados da minha vela se encontram e nada vejo 
caio em mim pois de repente um compacto chão acontece 
e a água – reflexo que desliza – vem salvar minha vida 
alçando-me ao ar no qual a menor substância pesa 

leve este meu ser transmutado em fumo 
e voo e voo e voo e voo e voo e 
num céu de azul Gitanes 
me vou sem rumo 

sem 
juízo 
final 



3 de maio de 2013

fresta

esta noite 
eu te amo 
como luz 
o artifício 
na cidade 
pensando 
o sentido 
profundo 
e radiante 
que nasce 
no insano 
e sensível 
horizonte 
sem muro 
e no quão 
logo além 
no futuro 
é o nosso 
alvorecer 
verosímil