TRANSATRAVESSADOS

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20 de setembro de 2013

desistencialismo

mal começo, logo desisto 
costumo ser dissidente 
ou apenas não persisto 
e me abstenho, ausente 

eu não me importo 
não quero nem saber 
pois não o suporto 
mando logo se foder 

nada condescendi 
falta não me fará 
não estou nem aí 
deixo tudo para lá 

eu fujo da arena 
estou caindo fora 
saio agora de cena 
estou indo embora 

nada disso não mereço 
canso fácil demais 
simplesmente esqueço 
mostro os genitais 

eu não aguento 
e me desassocio 
ou me aposento 
ou me distancio 

basta abrir mão 
jamais me iludo 
se é tudo em vão 
desisto de tudo 

sou um desertor 
sempre me excluo 
e para mais me opor 
não continuo 



15 de agosto de 2013

Da posteridade insustentável do resto


É drástico isto que prenso, antibactéria,
e qualquer capricho para inédita glória
eu destaco como se meio mais plástico,
como se cada erro atual já fosse sólido
divisor de dividendos vitais se predigo
quociente cujo úmido resto não será o estrume,
do imenso saco de matéria consumida,
com o lixo que a fétida história sempre esvazia
nesse aterro imortal do pútrido futuro,
ainda o mais antigo e escuro
chorume da vida
é poesia.



25 de julho de 2013

Um ano de diferença


Aos cinco anos de idade, por haver nascido em dezembro, 
meus pais tiveram a opção de me colocar na escola, 
mas preferiram me deixar mais um ano livre. 

Sempre fui o mais velho entre meus pares, 
e, apenas por tal razão, tornei-me hoje um idiota, 
já que cresci julgando que todos os outros é que o eram. 

Tivessem meus pais me matriculado um ano antes, 
teria crescido a julgar que o idiota era eu, 
e talvez pudesse estar enganado. 



30 de maio de 2013

Buster Keaton

cara de pedra 
louco acrobata 
intrépido poeta 
quem te ampara? 
belo saltimbanco 
em preto e branco 
por que te arriscas 
às quedas e faíscas? 
talvez por travessura 
ou porventura mudez 
jamais saias do ângulo 
se não estás sonâmbulo! 
porque tu sempre corres 
veloz para a imensa ação 
e rio e choro e não morres 
nem mesmo contra canhão! 
e nenhuma vez ris ou choras 
de ódio ou de amor no cinema 
diante dos vis ou se te enamoras 
como se já projetasses este poema 



28 de março de 2013

Círculos de Confusão


Para obter o ângulo certo
ao procurar o dia perfeito
era preciso olhar de perto
as distâncias que espreito?

Haverei de ver brilho tão alheio
ali em baixo quanto lá em cima?
Caberá aqui em mim se no meio
é tão menos luz do que enzima?

Onde estarei mais quente
se dispenso qualquer dica
que me faça ver de frente
a solidão que me duplica?



1 de fevereiro de 2013

Três Gatos

Gato e Rato 

Rato na terra ao gato 
Que tem boa vontade 
Que usa bem o olfato 
Rumo a sua saciedade 

Visa além do que vê 
Ao cobiçoso enxergar 
Ao fugitivo que prevê 
Vir a ser felino paladar 

Que morreria de leptospirose 
Aquele gato faminto não sabia 
Aquele rato só sabe da psicose 
Que sente morrendo de gatofobia 

Gato e Peixe 

O peixinho na água do aquário 
Sem saber que era visto de fato 
Todo o perigo seria imaginário 
Não o visse ambicioso o gato 

O felino que desdenha do banho 
Mas arrisca-se por uma boa presa 
Um meio vale se o fim é o ganho 
Só lava a garra que usará à mesa 

No chão a seus pés o peixe engatinha 
Agonizando sem ar por ter sido fisgado 
Um dos dois vai virar só uma espinha 
Um dos dois vai se revirar engasgado 

Gato e Pássaro 

Um passarinho no ar planava 
Sonhava baixo em seu rasante 
O pensamento do gato se alçava 
A como ficar da comida diante 

Subiu o felino ao galho mais alto 
Em silêncio escondido na árvore 
Pondo-se alerta para o maior salto 
Ao apanhar a ave que bem a devore 

No pulo o gato recheia o que estava vazio 
Sem discussão está no papo o filé 
Engaiolada no gato ela dá seu último pio 
Sem asas nem sempre se cai de pé 


25 de janeiro de 2013

Precisar Impossível



Ele acordou muito cedo naquela promissora manhã de segunda-feira. Um dia especial. Tomou banho e se barbeou bem, penteou os cabelos e escovou os dentes. Vestiu seu melhor terno, bem combinado com a camisa, o cinto, a gravata e os sapatos, bem como com as abotoaduras. Tudo impecável, indefectível; estava um homem muitíssimo bem apresentável, aparentando mesmo muita credibilidade. Devia-se admitir. Fez seu desjejum com ansiedade e então partiu.

Confiante e otimista, dirigiu-se para o centro da cidade com um único e bem definido objetivo. Iria atrás de uma colocação no mercado, digna de seu conhecimento e preparo e, por que não dizer também, merecimento. Quando viu os homens vestindo placas de anúncio de empregos conhecidos como cartazistas, parou para olhar; tinha mesmo chegado um pouco adiantado e não custava nada matar assim seu tempo. Passeou por entre os anúncios considerando as mais diversas oportunidades de se conseguir vagas; deteve sua atenção nos detalhes das exigências e dos pré-requisitos, dos salários e dos benefícios oferecidos, como outros candidatos. As palavras dos anúncios lhe entravam pelos olhos como se mágicas, douradas em seu reluzir de solução definitiva para algum resquício qualquer de insegurança que ainda pudesse ter. Quando parou em frente, de repente, daquela vaga. Era exatamente a melhor opção possível se tudo mais desse errado, e seria aquele o seu plano B perfeito. O que fez, então, foi sacar do bolso interno do blazer uma caneta, anotando minuciosamente os dados da vaga e de onde poderia muito bem e a contento encontrá-la.

Havendo chegado à hora, encaminhou-se diretamente para a entrada do edifício muito alto onde já estava se formando uma fila, na qual tomou seu lugar. Após ter aguardado pacientemente tantos anos ao longo de sua vida, preparando-se para este dia, estudando e incrementando sua experiência, jamais se surpreenderia com algo desse tipo, nem isso tampouco o faria desistir daquilo que já tinha programado, tendo previamente pesquisado quais seriam os itens necessários para sua formação a constar devidamente em seu extenso e bem elaborado currículo. Então, depois de esperar mais de uma hora, finalmente pode adentrar o edifício. Identificou-se à portaria, passando pela recepção, onde se informou, reconfirmando as informações que pesquisara previamente. Ratificou que, para visitar todos os andares, repletos de empresas agenciadoras de mão de obra, o melhor seria subir de elevador até o último piso e descer tudo de escada. Educadamente, ainda cedeu sua vez para umas senhoras, antes de entrar no elevador que o faria subir ao topo da construção. Enquanto subia, repassava mentalmente as palavras que diria quando fosse amiúde indagado sobre este ou aquele item, uma ou outra passagem de sua formação; a explicação sobre onde exatamente residia ou mesmo sobre sua pretensão salarial. Após alguns segundos, chegou ao seu destino. Aproximando-se impavidamente, então, do balcão da recepcionista, sem quaisquer delongas e com o seu bom sorriso cortêz, atacou:

- Bom dia! Eu gostaria de me candidatar a uma vaga de presidente de multinacional.

A mocinha, a princípio, ficou atônita. Outros candidatos na sala de espera olharam. Logo, a atendente, disfarçando um sorriso, pediu desculpas, dizendo ter achado que não entendeu muito bem o que disse o candidato e solicitando que ele não se incomodasse em repetir, por favor, a que veio. Sem se sentir contrariado, mas sem entender o que ela não havia entendido de sua boa pronúncia, prova de destreza na dicção e fluência verbal, pôs-se a repetir, em idêntico tom, as mesmas palavras. Antes que concluísse a frase, estalou um burburinho geral que rebentou em estrepitosa gargalhada, a qual também sucumbiu a normalmente tão comedida moça da recepção, numa sessão de risos gritados, uivados e cheios de interjeições zombeteiras que rompeu de forma inédita o ambiente de seriedade e profissionalismo predominantes ali ao longo dos anos.

Ele, um pouco como se se desse conta do absurdo da situação, mas mais pela algazarra em si do que por seus motivos, se empertigou, retirando de sobre o balcão o seu currículo, resignadamente e com alguma brusquidão, dizendo ainda um “muito obrigado” um tanto irônico, para se retirar em seguida, não sem ainda escutar ecoar o retumbar do riso de toda a audiência sem compostura alguma atrás de si. Procurou não dar muita vasão aqueles ânimos tão desconcertantes.

Seguiu seu caminho para a próxima agência, logo em frente, onde as pessoas chegaram a se assustar com tamanho ruído vindo da outra porta, curiosas por saberem de que se tratava, mas ainda empedernidos em manter a seriedade adequada a tais ambientes, seus empregos e vidas futuras dependendo de suas posturas. Mas não demorou para que, pouco após a entrada do próximo candidato, descobrissem os motivos... ou, mais precisamente, para que conhecessem pessoalmente o motivo. E da-lhe nova saraivada de risos. Dessa vez, sequer foi necessário que ele repetisse as palavras. E como que ampliado pelo suspense após as primeiras gargalhadas na outra sala, o estampido dessa segunda sessão pode ser ainda maior, com acréscimo de pantominas e arremedos, mãos nas testas e abdômes, além dos vários pares de pés batendo no piso, que chegava a tremer.

Na agência do andar de baixo, já se haviam igualmente dado conta de que algo infinitamente curioso se passava, e, quando se aproximou o candidato seguinte... riso frouxo e gargalhadas debochadas encheram o ar com tal ruído que já se podia pensar estarem todos não apenas a assistir a uma hilária comédia, mas a serem cruelmente torturados com as mais severas cócegas. Relinchavam, grasnavam, rugiam, zurravam. Era assustadora a forma como já se entregavam às risadas de forma tão livre e exagerada, ebriamente; tanto que ele, muito rápido, abandonou o recinto, quase mesmo como se estivesse fugindo, mas não. Um pouco ensimesmado, mas ainda imperturbável.

Assim, cada vez com maior alvoroço, seguiu-se a sua descida de agência em agência, anunciando sua candidatura à vaga de bobo, ridículo, louco, ou, apenas, como ele bem dizia, presidente de multinacional. Repetiu-se tudo com mais e mais intensidade a cada vez, a cada nova entrada num e noutro canto pelo qual passava, de todos arrancando até o último recôndito ar gargalhante que era iminente liberar assim a plenos pulmões.

A rotina do prédio, a essa altura, já havia sido completamente perturbada pelo fenômeno. Começava-se a parar todas as atividades de praxe do cotidiano de trabalho das diversas empresas e da própria administração predial. O pessoal da recepção e da faxina, os seguranças, a turma da cozinha e de todas as agências já visitadas se aglomerava na entrada da próxima, a esperar outro bis de tão divertido e inusitado espetáculo de bizarrice e grotesco, exponencialmente crescentes. Pessoas dos prédios vizinhos e mesmo gente que passava na rua, aparentemente sem nada a ver com a coisa, assomava. Notava-se um fluxo de pessoas muito maior do que o que comportavam escadas e elevadores, acometendo as vias de acesso e circulação do edifício, apenas para vê-lo.

Quando chegou ao primeiro andar, encaminhando-se para a última agência, a expectativa era não apenas a de que após aquilo o mundo poderia acabar, mas que de fato acabaria, numa felicidade nunca antes imaginada em tempos tão apocalípticos. Mas o que de fato aconteceu foi mais surpreendente: não algo ainda muito mais engraçado, nem muito menos; foi algo diverso, surpreendente e talvez decepcionante, como se poderia pensar. Em verdade, passou-se algo insondável, intrigante e até mesmo incomensurável. Simplesmente ele se aproximou do balcão da recepção com a mesma expressão e atitude de antes, desta vez com o último currículo que faltava entregar em mãos, retirou do bolso uma anotação e, diante dos olhares pasmos e embasbacados da turba, leu-o, para em seguida dizer:

- Bom dia! Eu gostaria de me candidatar a uma vaga de office-boy.

Apenas um Nada enorme podia ser lido nos olhares daqueles que, esperando por outra coisa, estavam ali ouvindo aquilo que ele quase sobrenaturalmente acabara de dizer. A recepcionista foi a primeira, após um instante catatônica, a respirar. Ela então piscou, respirou novamente, mais fundo, e olhou seus papéis no balcão; observando atentamente o currículo do candidato. Disse que sim, que eles haviam mesmo anunciado, assim e assim, tal vaga, e que ele poderia normalmente e muito bem se candidatar a ela.

Então, passando por entre as pessoas que se amontoavam com alguma dificuldade, ele se dirigiu a sala de espera onde, imperturbável, pôs-se a aguardar ser chamado para a entrevista, ansioso.


6 de julho de 2012

Narrativa e erro



A extinção dos morcegos será a das bananas / Ó Deuses, deuses,
       dai-me um peidinho piedoso / A desfolhar borboletas /
            Ordenar adornos, tornear transtornos /
Paisagem com mosca, fosfena com cisco /
                 Teorema do ser ao sul / 
             Ser do contra / Viagem vertical /
Pela qual acaricio o tesão dentado com algum punhado de luvas /
Onda acordeonista que toca o tempo de banho / De visual arcaico
       forjado então adiante / Se o futuro do passado está sem-
          pre parado / Espreita através
         de um ouvido da porta / E intui o ferreiro /
Que inexistindo pai / Orfeu /
Ferveremos os fetos dos órfãos
E neste céu roxo, um sol de ameixa /
        Miraculosamente amadurece /
        A salgada mágoa de lesmas desse Zéfiro horizontal
           contudo oculto no núcleo do outono /
E aí bebo a solução do problema anterior /
         A endossar os nervos lançados / No instante
 lubrificante brutal que ilumina / Esta confeitaria cerimonial,
                 oficina luciferina /
 Bagagem (de mão) de ferro derramado /
   Em todas as espécies de plantas dos pés / Mistura de fumos
               na carta de rumos /
Logro lírico a colorir do rigor / Livre desses destinos repulsivos /
E o pulso dissidente sorve seu nervo servil / Nascente incógnita
              de eficácia fescenina /
Epopeia que se copia opiácea no último cerne do sonho lotado /
No detalhe do detalhe retilíneo / Cume de faca, gume de pico /
           A devassidão do vocábulo fodido /
  Badalo fosco que é puro ouvido / No crânio descontínuo /
  Do homem relutante que, estranho em seu túmulo / Some
       este coro de covas /
       À tua ilha-presença, este lugar que criei só /
               Louco ou coisa melhor /
Nestes dois quartos da hora de fama / Altivo discurso sozinho /
Meia hora de bondade / Porque há cada vez mais terra no céu /
Até antes da tattoo seu corpo no tempo era obra em progresso /
Projeto para algum imprevisto enquanto prova da fruta-mídia /
Ciência que se debruça / Nesta cinza volátil / Readolescendo /
O seu nascer bifurcado /
Desde a vodka gótica / Tomada com gelo de água de torneira /
         Em meu quarto de costas para a Metrópole /
         Outro / Mesmo aprendiz de branco (75%) /
         Com a memória explícita de lobo temporal /
Pó de ser lido o meu Mal (dito diário) /
         Ao empapelar sua prole de sotaque etrusco /
         Ou decretar milagre em estado de exceção /
         Neste seu curso intensivo de arlequinagem /
Que (mar)ca dente /                            Alfabetos / que falo besta /
         Como se do mero exercício de canto kitsch /
         Eclodissem as sedes que li / E doces de lis /
         Sangria de amor cego ao escalpelar patrões /
Um cheiro de som / Cor que se tateia,
      gosto que se tatua /
Como se o sonho fosse tão mais real /
Pois, chupada esta realidade, ele seria tudo aquilo que te resta /
Pois o real sou eu (menos a vontade) /
               E este f(i)ode Ariadne /
Extremo sexo-trem da razão exausta (se extenua tu de anexo) /
Rumo ao horizonte que já se doura / Do sol que a foto estoura /
Flechas do Amor: ser de mais formas do que Satã ou o açúcar