TRANSATRAVESSADOS

6 de julho de 2012

Narrativa e erro



A extinção dos morcegos será a das bananas / Ó Deuses, deuses,
       dai-me um peidinho piedoso / A desfolhar borboletas /
            Ordenar adornos, tornear transtornos /
Paisagem com mosca, fosfena com cisco /
                 Teorema do ser ao sul / 
             Ser do contra / Viagem vertical /
Pela qual acaricio o tesão dentado com algum punhado de luvas /
Onda acordeonista que toca o tempo de banho / De visual arcaico
       forjado então adiante / Se o futuro do passado está sem-
          pre parado / Espreita através
         de um ouvido da porta / E intui o ferreiro /
Que inexistindo pai / Orfeu /
Ferveremos os fetos dos órfãos
E neste céu roxo, um sol de ameixa /
        Miraculosamente amadurece /
        A salgada mágoa de lesmas desse Zéfiro horizontal
           contudo oculto no núcleo do outono /
E aí bebo a solução do problema anterior /
         A endossar os nervos lançados / No instante
 lubrificante brutal que ilumina / Esta confeitaria cerimonial,
                 oficina luciferina /
 Bagagem (de mão) de ferro derramado /
   Em todas as espécies de plantas dos pés / Mistura de fumos
               na carta de rumos /
Logro lírico a colorir do rigor / Livre desses destinos repulsivos /
E o pulso dissidente sorve seu nervo servil / Nascente incógnita
              de eficácia fescenina /
Epopeia que se copia opiácea no último cerne do sonho lotado /
No detalhe do detalhe retilíneo / Cume de faca, gume de pico /
           A devassidão do vocábulo fodido /
  Badalo fosco que é puro ouvido / No crânio descontínuo /
  Do homem relutante que, estranho em seu túmulo / Some
       este coro de covas /
       À tua ilha-presença, este lugar que criei só /
               Louco ou coisa melhor /
Nestes dois quartos da hora de fama / Altivo discurso sozinho /
Meia hora de bondade / Porque há cada vez mais terra no céu /
Até antes da tattoo seu corpo no tempo era obra em progresso /
Projeto para algum imprevisto enquanto prova da fruta-mídia /
Ciência que se debruça / Nesta cinza volátil / Readolescendo /
O seu nascer bifurcado /
Desde a vodka gótica / Tomada com gelo de água de torneira /
         Em meu quarto de costas para a Metrópole /
         Outro / Mesmo aprendiz de branco (75%) /
         Com a memória explícita de lobo temporal /
Pó de ser lido o meu Mal (dito diário) /
         Ao empapelar sua prole de sotaque etrusco /
         Ou decretar milagre em estado de exceção /
         Neste seu curso intensivo de arlequinagem /
Que (mar)ca dente /                            Alfabetos / que falo besta /
         Como se do mero exercício de canto kitsch /
         Eclodissem as sedes que li / E doces de lis /
         Sangria de amor cego ao escalpelar patrões /
Um cheiro de som / Cor que se tateia,
      gosto que se tatua /
Como se o sonho fosse tão mais real /
Pois, chupada esta realidade, ele seria tudo aquilo que te resta /
Pois o real sou eu (menos a vontade) /
               E este f(i)ode Ariadne /
Extremo sexo-trem da razão exausta (se extenua tu de anexo) /
Rumo ao horizonte que já se doura / Do sol que a foto estoura /
Flechas do Amor: ser de mais formas do que Satã ou o açúcar


7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O POEMA TEM QUE TER COMEÇO, MEIO E FIM.
    UM POEMA NÃO PODE SER DESCONECTADO DE UM OBJECTIVO, POIS PERDE SEU CONTEUDO POÉTICO
    QUE VEM DE UMA INSPIRAÇÃO,
    A NÃO SER QUE SEJA FEITO DE CAÇA - PALAVRAS.

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    1. O poema só tem começo no poeta (aquele que faz); seu único meio são as palavras (signos entre silêncios); e seu único fim é qualquer olho/ouvido (do imprevisível "todo mundo"). Poesia não é comunicação. Também não é literatura, pois deve muito mais à música e às artes visuais; e talvez até mais à magia.

      A forma de uma obra de arte é todo o seu conteúdo. Inspiração é apenas meio movimento (sístole, impressão), requer seu óbvio complemento, a expiração (diástole/expressão) para chegar a ser respiração (controle/diapasão). Como artista, minha estética é tão variável quanto o número mesmo de poemas que já escrevi, mas só lido com um único tema: a própria linguagem. Abjeto objetivo?

      Minha poética depende tanto de mim quanto do meu público, já que me responsabilizo apenas por meio poema, aquele que vai do mundo à página, passando por mim; já a outra metade, que vai da página ao mundo, passando pelo leitor/ouvinte, é para mim uma imensa incógnita, tão grande que eu jamais poderia ousar indicar um modo certo de me apreciar, porque possivelmente não há.

      Mas sobre um tópico não há dúvida: inversamente, é de igual grandeza o atrevimento que leva um leitor a me indicar de que modo devo escrever. Assim, se o poema parece feito de caça-palavras, palavras cruzadas, cruza-palavras ou palavras caçadas, e isto parece ruim, ou é algo de que não gosta... é uma pena, pois poli demasiado bem estes espelhos: trata-se de um poema, não de um pedido de conselhos.

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    2. Poeta, precisei ler mais de uma vez. Na minha opinião esta poesia pode n ser entendida por aqueles que escrevem versiculos de auto-ajuda e/ou piedade ( q não aprecio). Aqui encontro, de alguma forma, parceria p/meus "outburst". Evoé!

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    3. O poema - a obra de arte - não "tem que" nada, em absoluto. Se arte precisar de trilhos, a estação é a obviedade.

      Sua obra é impecável, Davis, justamente por ser exatamente o que você, o artista, determina que seja.

      Sobre a crítica em caixa alta, não merece resposta, por conta da superficialidade e série de conceitos (?) equivocados em tão pequeno espaço. Imagino o que viria de uma lauda.

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    4. É mesmo, Robinson; infelizmente também imagino a tal lauda, com todas as suas linhas... É nessas horas que nossas boas imaginações parecem se voltar contra nós. Embaraçoso, não?

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