TRANSATRAVESSADOS

23 de novembro de 2012

Corpo





É a massa abjeta de sentidos e sentimentos,
excremento dos deuses, barro informe do não-ser deus.
No umbigo dessa ideia, por alta casuística,
estamos menos adâmicos, menos edênicos,
mas mais humanizados, demasiados.
Somos o universo no centro do corpo,
a coisa de todas as medidas.
Em sua corporalidade, fisicalidade, é o próprio estar do ser.
Nossos corpos são o muro da metafísica,
o alimento da guerra,
a pátina do tempo.
O nu, único realismo possível ao corpo, é atemporal;
a despeito de toda anedótica moda e cosmética efêmera.
É justamente em sua imensa vulnerabilidade
que reside sua maior força,
a de estar provisório e de ser impermanente,
passageiro, ao mesmo tempo em que é transporte.
Sua decrepitude o torna eterno, sua tangibilidade o faz icônico.
No corpo, a banalidade o faz inédito,
e o desinteresse que nos causa a nossa familiaridade com ele
é a fonte mesma de toda sensualidade.
O corpo humano é composto pelos quatro elementos:
a água, representada pelo hidrogênio
(pelo que se tem sede e chora),
o ar em forma de oxigênio
(aquilo que se suspira),
a terra como carbono
(aquilo que sobra no final),
e fogo, representado pelo nitrogênio
(com cujo sal se faz a pólvora e, com doçura, o amor).
O corpo é dividido em três partes: sonho, dor e gestos.
A isso tudo se pode incorporar mais o que se quiser,
já que o corpo é escravo da mente,
embora o contrário também se verifique;
o corpo tudo acata, como uma página em branco;
ele sofre tudo, quase nunca calado, mas sempre sofre.
O corpo sobrevive a tudo,
já que quando morre já não o chamamos mais corpo,
senão cadáver.


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