TRANSATRAVESSADOS

1 de outubro de 2012

Um espaço de cada vez ou uma década a fazer este poema



Intervalo vazio. É ataraxia
entre dois clichês,
hiato entre tédios,
menos que espaço: vírgula.

E mistério em plena deriva: zona branca
posterior à calmaria que sucede a ação,
anterior à angústia que antecede a ação.

Ato entre o lastro e o impulso,
modo do gesto que é quase efeito
no momento crucial das peripécias, avulso,
ou movimento essencial entre duas inércias do peito.

Sucessões de cessações das sensações
aptas a jazer entre um não e o não ser,
é espesso espaço, portanto. Existe ali.

Indisposição sutil para o cada vez menos vago, logo à frente,
para o pouco indulgente, para o que há devagar tão abstrato.
Lassidão com que lá se dão o algo, o impreciso e o reticente.
Interstício entre sonho e sonho, é longa pausa para o não-ato
ou dolce far niente.

Primeiro conceito de lazer do mundo, a própria Poesia a apoia.
Superfície que ascende preocupada em fazer crescer seu fundo,
a preguiça sequer boia.
Nada a fazer.



Um comentário:

  1. Um dos lugares mais bonitos de SP. Um tanto inspirador mesmo.

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